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Eu julgo, tu julgas, eles julgam...

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sábado, abril 17, 2010 by

       Acordo e vou parar diante da tela de meu laptop. Aos poucos, atento-me aos sons que permeiam o ambiente. Percussões, vozes, "sons televisivos", estalos. Juntamente vêm as conversas, as quais infelizmente adentram nossas casas, invadem nosso recinto e, não obstante, nossos ouvidos. Não posso culpabilizá-las; são meras ondas sonoras. A culpa é de suas fontes. Essas fontes julgam, e julgam sem saber coisa alguma sobre seus objetos de julgamento. São conhecidos, vizinhos, parentes... talvez até Deus, sei lá. Isso me fez pensar: "como essas pessoas só querem saber de condenar; podiam estar fazendo algo útil, cuidar de suas vidas, tocá-las adiante". Algo que é 100% conclusivo é que estas conversas infames acabam chegando em (ou girando em torno de) um ponto comum: dinheiro.
     Ultimamente as pessoas têm falado comigo muito a respeito de julgar. Alguns sentem-se constantemente julgados (e mal-interpretados), outros - como eu - confesam julgar as pessoas, outras preferem continuar na conversa fiada de que não julgam (#detestopessoasperfeitas).
  Para mim, julgar é algo inevitável; faz parte do ser humano. Julgamos o tempo todo. Eu julgo pois preciso disso para ter uma visão crítica da coisa, para ter uma noção do que está acontecendo e me posicionar. Mas faço um julgamento sadio (I believe), uma forma de tentar entender as pessoas, saca? Mas confesso que isto talvez não seja uma ferramenta muito eficiente. A cada dia descubro que, de fato, as pessoas são equações não muito triviais, e achar a linha lógica da coisa, obter uma solução geral para elas é algo quase impossível. E é aí que nos frustramos e seu julgamento acaba virando uma espécie de metodologia científica, onde você levanta várias hipóteses sobre o indivíduo e tenta formular leis gerais para tal. Aí você vai para o laboratório da vida real e quebra a cara, pois se surpreende ao saber que está faltando algo na sua lei geral. Talvez uma simples constante, ou um termo adicional, ou você esqueceu uma variável vital na coisa toda. E o que você faz? Novas hipóteses, novos experimentos, leis refutadas... E você desiste disso. Você prefere viver em harmonia com o desconhecido (você pode tentar se afastar também; as vezes o faço para fugir da sensação de confusão). As pessoas continuarão sendo meras equações e você nunca saberá quantas variáveis aquele sistema tão complexo possui. É, bem-vindo ao mundo da complexidade. Onde determinismo nenhum de fato impera ou tudo muito quântico ainda aguarda uma explicação. Onde tudo as vezes é muito relativo ou tão óbvio, talvez. Talvez tudo seja muito simples, mas nossa complexibilidade humana desconstrua isso para construir um cosmos caótico.
  Creio que, julgar não deva consistir em um ato de determinar, bater o martelo e dizer se alguém é bom ou ruim, mas é uma forma de diagnóstico, é um levantamento de como você vê as coisas e as pessoas (vide dicionário). Para mim é uma formulação de hipóteses, pois baseamo-nos naquilo que conhecemos. Julgo em um processo de conhecimento, de estabelecimento e desenvolvimento de relacionamentos. Tento entender as pessoas, mas, cheguei a um ponto no qual reconheço que isso não funciona muito. Há pessoas que julgam sem conhecer e com uma finaldade negativa. Isso é condenação. As pessoas condenam antes de julgar, de avaliar. Talvez, acho que sempre, melhor que o julgar seja o compreender. Compreensão é algo muito difícil, à primeira vista, mas, se você parar pra pensar e considerar que todos somos humanos, que somos essa rede bizarra de complexibilidades, você tenha mais facilidade em tolerar, sem condenar o próximo, sem dar validade absoluta aos seus julgamentos, os quais nunca vão ser exatos. Isso é compreensão, é ver o outro como humano, que nem você.