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Nestes dias

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quinta-feira, agosto 21, 2014 by

Inverno carioca. É engraçado como durante o verão a gente não consegue se imaginar sentindo frio na cidade e durante o inverno não temos noção de como as coisas vão esquentar em dezembro. O casaco nestes dias é companhia constante e a droga é mesmo quando chove. Nestes dias tudo é feito de vozes e de ideologias,  tudo é discurso... Mas me falta muita poesia. Me falta arte, embora eu a sinta me atraindo por todos os lados. Mas é o tempo. Ele anda escasso e isto implica escolhas... Também nestes dias abri mão da Coca-cola e seus familiares. Cinco semanas e dois dias sem refrigerante e tal coisa não me faz falta. Incrível, nunca imaginaria que eu poderia não sentir falta disso. Nestes dias me questiono sobre a falta de alteridade nas nossas relações. Nestes dias tenho escutado rock e sido constantemente envolvido por uma atmosfera nostálgica. Como de costume, o café está sempre por perto - seja numa cafeteria ou em casa mesmo - e é o amigo que me impulsiona a encarar minha rotina. Nestes dias minha mente tem ressignificado muita coisa. Esse processo de ressignificação é constante, de vez em vez ele sempre acontece. Creio que aprendi a apreciar minhas crises e sei que não se resumem só a desesperos. As vezes acho que estou no meio de uma, é até confuso agora, uma vez que elas já  até parecem ser algo comum e esperado na minha caminhada. Confesso que às vezes tenho ficado de saco cheio com muita coisa. É como se coisas viessem finalmente a mudar e eu não estou hesitando. Irrita-me ver pessoas se prendendo ao que julgam ser imutável. Paradigmas estão naufragando e as pessoas simplesmente ignoram os botes salva-vidas (ou até impedem outras de entrar neles).

Passei por experiências muito gratificantes estes meses, nas quais conheci pessoas em momentos os quais desejei que fossem intermináveis. Mas, infelizmente, estes momentos expiraram. No entanto, as pessoas continuam, onde quer que elas estejam e também na minha vida. Pessoas nos marcam, nos agregam, me enriquecem. Senti-me em casa em Natal e recebi em minha casa pessoas que nunca tinha visto na vida como se fossem família. A graça da vida está nessas coisas.

Das coisas que tenho para escrever, das coisas que tenho que conhecer, nada é poesia, nem canção, nem viagem. Mas estou contente. O coração arde e as vezes quer fugir selvagem pra algum onde já tenha pisado ou pra alguma terra nova que depois vire fotos em meu smartphone e elos com pessoas queridas. No entanto, tempo há pra tudo, e toda experiência - mesmo a mais monótona - é importante. Que graça foi poder quebrar a rotina da minha manhã, nesta quinta-feira, e poder dedicar uns minutos pra escrever essas declarações da minha alma. Não foram minutos perdidos - embora eu sempre tenha medo de que qualquer coisa que faça que não seja uma tarefa se resuma a perda de tempo. 


Escapismo

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quarta-feira, março 05, 2014 by

Lembro-me de quando retornei ao meu lugar. Há mais de um mês. O ar estival de janeiro que há dois anos seguiam ausentes. A Cidade maravilhosa brindou-me a face com seus cálidos raios de sol que aos poucos adormeciam ao fim da tarde. Junto com a sensação de calor e caos, uma mistura de nostalgia e medo me devorava por dentro. Nostalgia devida as lembranças dos dias em Juiz de Fora. Medo, pavor do porvir. A sensação era de que algo muito bom estivesse se dissipando e tudo o que eu precisava fazer agora era arranjar um jeito de me submeter a toda pressão da realidade que havia deixado aqui, mas que agora rugia três vezes mais ameaçadora. Eu só conseguia pensar nas demandas, nos prazos, na dor de ter que parar, sentar, me focar e produzir, mesmo contra a vontade. Retornos ao lar são sempre dolorosos para mim, mas este foi atormentador. Ao chegar em casa, o banho tomado, a mente no ar, os olhos brilhando e o coração aflito. Tudo o que eu queria era um jeito de solucionar isso, dar alívio à aflição, ver esperança, confiar de fato no socorro bem presente. O desejo mais desejado era o de escapar. Sair. Só queria poder escapar de toda atração exercida pelas minhas demandas e saltar pra um estado de bem estar pleno. Seria perfeito não ter mais que me desesperar e nem verter mais uma vã lágrima. O choque que se manifesta no momento em que você percebe que o mundo é maior que suas minúsculas mãos é agressivo. É impactante quando você reconhece que nada pode fazer pra solucionar a coisa. Toda e qualquer tentativa é frustrante. O poder não está em suas mãos e você agora mais claramente conclui que só é possível viver ao deixar o quebra-cabeças nas mãos de alguém muito mais habilidoso e inteligente  que você. Escapar é uma solução surreal, e a única outra opção foge do natural. O alívio surreal, utópico, fora do alcance, fora de cogitação. Não há espaços para atitudes inconsequentes, pois a vida não é uma novela. Lembro-me que aqueles dias ansiavam por um fim. Aos poucos a dor foi sumindo, a realidade me abraçando, a fé se despertando, a coragem, o levantar, vida. Deitado sobre o colo da minha fraqueza eu encontrei o socorro. Imponente e belo, Ele se revelou nos piores dos dias. Mostrou-me que fugir é inglório e que eu poderia fazer algo muito melhor do que simplesmente desejar abrir mão de algo que eu ainda nem havia possuído. Ele me mostrou que existem coisas maiores do que aquelas que me afligem e de que eu não vivo diretamente pra tais coisas severas mas necessárias na vida. E era tudo uma questão de respirar e ceder. É impressionante como os sentimentos que ora sinto estavam mortos. É impressionante como deixei minha paz desvanecer depois de um momento tão belo. É incrível como me mantive preso ao desespero sem ao menos tentar unir forças em mim para prosseguir, e, mesmo quando o fazia, era o medo que me movia. E agora, o que me move? A fé me move. A certeza de saber que o socorro está ali, aqui. A leveza em saber que, minha fraqueza é o espelho no qual a magnitude e o perfeito plano do socorro se revelam como que em claras águas. Posso andar e não temer e entender que o tempo é dele. As vezes o escapista em mim se desperta, buscando em fotos, cores, saudades e fragmentos de conversas me levar para qualquer outro lugar distante daqui e de toda essa dor sem sentido que insistimos que precisamos sentir - só assim se faz humano, um digno humano, parecem dizer eles. Mas logo sou trazido de volta e a calma, a singeleza e a grandeza do socorro me comovem, me envolvem e ai eu prefiro seus planos e sonhos; abro-me à sua paz e à energia dele que me move. E ai sinto-me voltando mais uma vez ao meu lugar, a mim mesmo.

Sam (04/03/14)