Archive for outubro 2010

Implícito

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quinta-feira, outubro 28, 2010 by


Olha e não vê
contemplação do não ser
Conhece o desconhecido
Um mergulho no profundo superficial

Gestos outros
Palavras sintéticas
Não és, e nem desejas ser
mas por algum motivo
és o que não és

Não te julgo
eu também uso
e mui outrens
o mesmo fazem

Precisa-se ver o semblante
Resplandecer do interior
Você de vidro;
as impurezas e não os diamantes
pedras tão falsas
quão ouro de tolo!

Sejamos nós
Sem cuidados, sem disfarces
Sem lágrimas oprimidas
ou sorrisos comprados

Delete de fakes
Upload da alma
É isso que se espera;
Sem belezas, sem mais, sem excessos
Não há mais espaço para vazios...


Sanderson A. Moreira (escrito em 25/10/10)


Ventos, Chuvas e Filosofias

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domingo, outubro 03, 2010 by

     Venta e cai um chuvisco incessante. No caminho para casa, os ventos sopravam forte, agressivos. Precisei segurar meu guarda-chuva para impedir que este fosse deformado ou levado pelas rajadas impetusas. Por fim, decidi fechar o guarda-chuva, permitindo com que as agulhadas geladas perfurassem meu ser nu. De alguma forma, essas agulhadas tornaram-se mais agradáveis - ou menos desagradáveis - que as constantes tentativas de impedir as ousadas acrobacias que o vento impulsionava meu guarda-chuva a fazer. Ressalto que gosto de caminhadas em dias chuvosos. Tudo é muito tranqüilo e a única sinfonia a se ouvir é a da chuva. Os ventos cantam e o coral de folhas revela uma perfeita variedade de tessituras. Há timbres de todos os tipos, sons de todas as sortes, mas que soam como o silêncio para minha alma. Na verdade, o silêncio é aquilo que tranquiliza [seja lá o que for] e não a ausência de som. É o algo que cala os pensamentos gritantes, pacifica as guerras interiores e nos seda temporariamente. O silêncio existe por dentro e não no ambiente. Há como existir silêncio em meio aos muitos sons. Um exemplo é quando estou no shopping. As vezes, o suposto silêncio da biblioteca da universidade - quase sempre - me traz poluição interior. Preciso fugir dali, preciso escapar. As vezes vou em busca dos andares mais vazios, mais tranquilos, mas, é paliativo. Percebo então que, na verdade, não é o pouco barulho ou pouco movimento que me trará mais paz. É algo mais profundo do que simplesmente os sons do ambiente físico. E fujo para o shopping. E ali, em meio a pessoas, lojas, odores [destaque para o da pipoca], sabores e ruidos, eu encontro um lugar. Sento-me em uma mesinha, escuto uma música, pego um livro ou algo para escrever, e inicio a minha viagem. Eu simplesmente achei um lugar para ter paz. Longe da correria acadêmica. Longe das cobranças. Longe das mesmas pessoas, da pressão psicológica e da auto-cobrança. A paz está então onde você verdadeiramente se liberta. Pode ser em uma caminhada pela rua, escutando uma boa música, e refletindo sobre a vida, ao lado dos carros que trafegam constantemente cruzando as vias da cidade, como eu o faço. Pode ser num dia de chuva, escutando o bramido dos ventos ou a melodia pluvial. Pode ser ao som da distorção de uma guitarra, ou nos golpes da percussão. Não importa. Você sabe onde encontrar a sua paz. E dias assim são dias nos quais eu delicio de um pouco dessa paz. 
     Paz é poder parar e ficar refletindo sobre sua vida. É poder perder o controle de sua auto-cobrança e abandoná-la, deixá-la de lado. É escapar de algo. É sentir a chuva e não reclamar do quão geladas são suas gotas ou por que você vai ficar todo molhado, mas sim senti-la e agradecer por isso, sentir isso como uma quebra de rotina, é vê-la como uma benção e não fugir correndo, mas sim caminhar, aproveitar cada gota que cair sobre você. É poder cantar em plena rua sem se preocupar em parecer um louco, mas sentir-se livre por cantar aquilo que a sua alma deseja entoar no momento. [sim, você não precisa ficar que nem um maluco gritando; eu disse, CANTAR, cantar para você!]. É, de alguma forma, ter um tempo consigo mesmo. É poder encontrar uma forma de visualizar somente você. E nesse momento é possivel ver que uma Pessoa Especial está com você, mesmo que não fisicamente, mas Ele está ali, acompanhando seu processo filosófico. Ele pode te induzir a pensar em como as coisas tem andado e você pode até sentir uma baita vontade de recorrer a algo maior, alguem que vá te abraçar com os braços do tamanho do Universo e que será a solução pra todos seus conflitos interiores. Ao fim de tudo, você verá que a paz se encontra quando você sente encontrá-LO. A paz reside nEle. Você já tentou encontrá-LO nos momentos em que você se sente aproximar-se da sua paz? #ficaadica
     Eis-me filosofando no conforto do cobertor e da cama. Pensando no fato de não saber ainda em quem votar amanhã [só presidente]. Pensando no medo da dor que pode ser me apaixonar novamente, exercitando novamente a atraente arte do procrastinar, mas, ouvindo, porém, a deliciosa harmonia dos sininhos embalados pelo vento, das telhas metálicas vibrando sobre os terraços, e do chiado do vento, que agora, por fim, parece estar encontrando algum sossego.