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Escapismo

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quarta-feira, março 05, 2014 by

Lembro-me de quando retornei ao meu lugar. Há mais de um mês. O ar estival de janeiro que há dois anos seguiam ausentes. A Cidade maravilhosa brindou-me a face com seus cálidos raios de sol que aos poucos adormeciam ao fim da tarde. Junto com a sensação de calor e caos, uma mistura de nostalgia e medo me devorava por dentro. Nostalgia devida as lembranças dos dias em Juiz de Fora. Medo, pavor do porvir. A sensação era de que algo muito bom estivesse se dissipando e tudo o que eu precisava fazer agora era arranjar um jeito de me submeter a toda pressão da realidade que havia deixado aqui, mas que agora rugia três vezes mais ameaçadora. Eu só conseguia pensar nas demandas, nos prazos, na dor de ter que parar, sentar, me focar e produzir, mesmo contra a vontade. Retornos ao lar são sempre dolorosos para mim, mas este foi atormentador. Ao chegar em casa, o banho tomado, a mente no ar, os olhos brilhando e o coração aflito. Tudo o que eu queria era um jeito de solucionar isso, dar alívio à aflição, ver esperança, confiar de fato no socorro bem presente. O desejo mais desejado era o de escapar. Sair. Só queria poder escapar de toda atração exercida pelas minhas demandas e saltar pra um estado de bem estar pleno. Seria perfeito não ter mais que me desesperar e nem verter mais uma vã lágrima. O choque que se manifesta no momento em que você percebe que o mundo é maior que suas minúsculas mãos é agressivo. É impactante quando você reconhece que nada pode fazer pra solucionar a coisa. Toda e qualquer tentativa é frustrante. O poder não está em suas mãos e você agora mais claramente conclui que só é possível viver ao deixar o quebra-cabeças nas mãos de alguém muito mais habilidoso e inteligente  que você. Escapar é uma solução surreal, e a única outra opção foge do natural. O alívio surreal, utópico, fora do alcance, fora de cogitação. Não há espaços para atitudes inconsequentes, pois a vida não é uma novela. Lembro-me que aqueles dias ansiavam por um fim. Aos poucos a dor foi sumindo, a realidade me abraçando, a fé se despertando, a coragem, o levantar, vida. Deitado sobre o colo da minha fraqueza eu encontrei o socorro. Imponente e belo, Ele se revelou nos piores dos dias. Mostrou-me que fugir é inglório e que eu poderia fazer algo muito melhor do que simplesmente desejar abrir mão de algo que eu ainda nem havia possuído. Ele me mostrou que existem coisas maiores do que aquelas que me afligem e de que eu não vivo diretamente pra tais coisas severas mas necessárias na vida. E era tudo uma questão de respirar e ceder. É impressionante como os sentimentos que ora sinto estavam mortos. É impressionante como deixei minha paz desvanecer depois de um momento tão belo. É incrível como me mantive preso ao desespero sem ao menos tentar unir forças em mim para prosseguir, e, mesmo quando o fazia, era o medo que me movia. E agora, o que me move? A fé me move. A certeza de saber que o socorro está ali, aqui. A leveza em saber que, minha fraqueza é o espelho no qual a magnitude e o perfeito plano do socorro se revelam como que em claras águas. Posso andar e não temer e entender que o tempo é dele. As vezes o escapista em mim se desperta, buscando em fotos, cores, saudades e fragmentos de conversas me levar para qualquer outro lugar distante daqui e de toda essa dor sem sentido que insistimos que precisamos sentir - só assim se faz humano, um digno humano, parecem dizer eles. Mas logo sou trazido de volta e a calma, a singeleza e a grandeza do socorro me comovem, me envolvem e ai eu prefiro seus planos e sonhos; abro-me à sua paz e à energia dele que me move. E ai sinto-me voltando mais uma vez ao meu lugar, a mim mesmo.

Sam (04/03/14)