Archive for dezembro 2012

Pés de Hobbit

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quarta-feira, dezembro 19, 2012 by

Uma agradável noite de quase verão. Caminho pelas ruas rumo à casa. Elas estão mais silenciosas e os carros as percorrem mais vagarosos e em número reduzido. Uma fração lunar mesmeriza meus olhos, como um demorado beijo de despedida ou boa noite. Noite, prestes a tornar-se em dia. A rua vazia parece ser mais minha. O ar estival, tão peculiar e entorpecente, parece que te leva, te eleva. Bilbo Bolseiro me fez pensar na vida. Tudo depende da aceitação ou não de desafios que ela te oferece. São decisões que te levam a outras decisões. Aventuras que levarão a outras aventuras vividas por você mesmo e até por outras pessoas adiante. É uma oportunidade de se permitir surpreender a si mesmo e descobrir-se. Penso agora em como a bifurcação no caminho tem me induzido aos poucos a um caminho que conduz a um abismo, o qual só pode ser transposto por meio de uma única ponte [ou, quem sabe, me desafiando a voar]. 
Tenho pensado e repensado e entendido que na verdade, no fim das contas, talvez o mais importante não seja o caminho e sim a caminhada. Como caminhar a via escolhida? Sim, eu escolhi, e entendi que, embora sejam diferentes os obstáculos, ambos caminhos podem ser trilhados de uma maneira similar. O que move os pés? O que conduz meu caminhar, qual o seu intuito? Será que eu apenas quero chegar em casa ou tenho me atentado para forma como eu ando por ruas? Já faz mais de um mês que eu mudei o caminho pelo qual vou pra casa. Passo por uma rua mais verde, mas calma, que parece encurtar o caminho. Percebi também que meus passos parecem ser menos velozes, mas a sensação que tenho é de que chego em casa mais rápido. É uma forma diferente de se chegar em casa. Poderia até ir de ônibus, mas não daria vazão à torrente de pensamentos, às minhas cantorias, enfim. Da mesma forma quero assim viver. Se este é o caminho a seguir, que venham as decisões e que meus pés saibam como melhor andar nessa estrada. Não quero rodas, prefiro os pés. E não quero pés velozes, mas quero pés habilidosos. Pés que saibam onde estão pisando e que saibam qual a melhor maneira de aproveitar o caminho. Talvez deseje os pés de Bilbo; pés de hobbit.

Sam (19/12/12)


O Novo

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quinta-feira, dezembro 06, 2012 by



Um aroma  incoscientemente desejado há muito tempo impregnou o ar. 
Inacreditavelmente, ela veio e derramou-se em parte. Trancou os portais celestes com seu cinza egoísta e transmutou o dourado deste quente dia decembrino num prateado véu nebuloso. Crescia o cheiro de chuva. Ainda o sinto. Respirei fundo e pensamentos de gratidão fluíram de um coração de fato grato. Os acordes de um violão intensificavam a inspiração que precedera aquela prece. Até que, após o breve silêncio, uma voz vibrou os ares e despertou os olhos.
Como o crescente cheiro de chuva, o novo vem em ondas. Frequente e pouco a pouco em intensidade. O desejo por ele é doce e instigante. O seu sabor é caótico, agridoce. O novo traz consigo pequenos caos escondidos sob suas exuberantes ondas. Quanto te atingem, te trazem de volta ao campo gravitacional da realidade, uma vez que, deslumbrado e desesperado pela sensação do novo, da mudança, perdemos noção de sua complexidade. No entanto, quando já tomado pelo abraço da novidade, algo é certo: deixe-se impregnar. Sinta não apenas o cheiro da terra molhada, mas repouse sob a chuva fresca e viva, que te lava do velho, te vivifica. Entre em ressonância com as ondas do novo e absorva a energia bem-vinda.

Sam (02/12/12)