Archive for dezembro 2011

Continuidade

2

sábado, dezembro 24, 2011 by

       Toca Joy Division na minha playlist. Verão. Os dias quentes e as ruas áridas. As horas rápidas e duradoura é a luz solar. Toda essa sensação térmica me faz ousar cada vez menos a tentar ter noção do frio ao qual meu corpo estará sujeito daqui há uma semana. Está tão perto que tange o inacreditável. Comprar roupas de frio em pleno verão, ver réplicas de bonecos de neve em plena paisagem de Ipanema, bem irônico. Minha ficha só vai cair mesmo semana que vem. 

       Época de festas de final de ano são sempre agitadas. Gastei boa parte das minhas energias esforçando-me e anelando as férias, e agora é como se o troféu finalmente tivesse chegado às minhas mãos. Se bem que estaria mais pra carta de alforria do que pra troféu. O semestre na Universidade se arrastou, cansou. Em resumo, agora posso ter um pouco mais de tempo para assistir Dexter, dar umas saidas e resolver umas pendências. No entanto, ainda continuo acordando cedo, digo, as oito horas, o que se pode considerar cedo já que estamos falando a respeito de férias.
       Ganhei o hábito também de olhar para o céu todas as noite antes de dormir. Fico caçando as estrelas e Júpiter. Fico encantado demais. Nunca parei para fazê-lo e minha motivação é a ênfase que tem sido dada à Astronomia no museu onde trabalho. Estamos sendo capacitados para o planetário e isso é bem divertido. O céu tem atraído meus olhos.

       De certo muitas pessoas estão escrevendo coisas sobre este fim de ano. Este está sendo o mais atípico para mim. Daqui há alguns dias é dois mil e doze, mas percebo que a cada ano que passa eu tenho desenvolvido a noção de continuidade no meu calendário mental. Janeiro é uma página em branco, mas não em um novo livro. É apenas um novo capítulo. Alguns preferem escrever contos de fadas, outros, tentam de alguma forma melhorar a trama de seus dramas. Eu prefiro continuar escrevendo rascunhos, fazendo alguns garranchos, umas letras bonitas depois, mas a todo instante sabendo que a estória não vai ter fim. Continuidade. Não consigo mais ver a linha divisória. Janeiro será um mês longo, frio e diferente. Fevereiro será curto, quente e típico. Alguns planos e resoluções cairão por terra, outros surpreendentemente emergirão e velhos sonhos costumam voltar à vida. É por isso que não desejo escrever algo especial sobre o final de 2011. Este tem sido um ano muito bom, e a propósito, estes últimos anos têm sido tão bons que não consigo mais classificá-los; são apenas anos. Coisas boas e ruins constituem um ano. Vitórias às vezes não podem ser conquistadas em apenas meros 365 dias. A vantagem de se ter um calendário mental que se desprende da linha tênue entre dia 31 e dia 1º é ter tal percepção dos fatos, tanto os que julgamos ruins como os que consideramos bons.  Aliás, tenho perdido também o habito de classificação. Preferências também são poucas. Tenho me tornado um ser mais compreensivo, eu acho, sobretudo, mais consciente da dinâmica da vida.
       Hoje é vespera de Natal, e é um dia estressante. As pessoas ficam tão inquietas, tão, hum, agitadas e... Empolgadas. As vezes, é algo que nem tem muito sentido para elas, mas, é o que a tradição manda. Todo esse movimento, essa euforia e esse tempo quente, com mães aprisionadas em suas cozinhas abafadas, a sinfonia das colheres atritando e percutindo panelas de metal, e familiares que chegam do nada, e crianças toscas com seus lesos pais nos shopping centers escolhendo presentes caros [e dos quais elas não são tão merecedoras assim, oh, crianças desobedientes], comerciais chicletes na TV, guirlandas, luzes e neve de isopor nas lojas de norte a sul e esse gosto de dia arrastado, me deixam num estado estranho, irritado, entediado. Mas não se engane, estou sempre feliz pois eu sei o sentido do Natal.


Aeternitas

2

quinta-feira, dezembro 01, 2011 by

Há um mundo que excede o pensar,
uma vida diferente, num outro lar
onde as peças bizarras
do quebra-cabeça cotidiano
se encaixam,
se casam
e como os pontos de Seurat,
assim visto aos longe,
fazem sentido
completo, preciso.
Os olhos falham ao enxergar
por trás da cortina de léptons e quarks
e o coração pulsa por nada,
por matéria que um dia se acaba.
Oportunidade perdida
a de não se apaixonar eternamente
pelo teu Arquiteto, oh!
Tragédia certa será
ao lado dEle não estar,
na casa feita pra ti
pr'onde se mudariam
amanhã,
depois daqui,
num passeio sem volta
sem fim:
além do campo de estrelas luzentes
e noites de luas crescentes;
onde os lábios não beijam
e só a alma toca,
onde os olhos, obsoletos,
agora cegos não choram,
não assim, não mais
no outro mundo.


by Sanderson Moreira (01/12/2011)