Processo
0sábado, novembro 21, 2015 by Sanderson Moreira
Salas de espera me são insuportáveis, bem como os atrasos, senhas, filas, sinais vermelhos ou qualquer outra coisa que requeira aguardar. Fala-se tanto que a vida é um processo. Eu falo tanto que tudo é um processo. Mas a grande verdade é que, quando o processo se dá em mim, ser paciente se torna uma tarefa bem árdua. Agosto, setembro, outubro, novembro e o que mais vier. Têm sido meses estranhos. Você acorda um dia em agosto e sua voz já não soa como antes. Há algo errado. Investiguemos. E, ao investigar-se, cala-se. Drummonizando à la moi-même, "no meio da laringe tem uma 'pedra' ". Um mês silencioso, no qual, além da minha intensa fala e canto, as canções do meu telefone tiveram também suas férias inesperadas. Três semanas sem minha maçã portátil. Os dias de setembro me abriram os ouvidos para o som de todas as coisas ao meu redor. Carros, ruídos, o vento, a gente, a música no mais elevado volume dos fones alheios no coletivo. Uma sinfonia louca que me acompanhava nas manhãs em Copa. Fonoterapia. Água, gargarejos, dó, ré, mi, fá, sol, correria, correria, correria. Metrô, ônibus e BRT quase todo santo louco dia. Rotina. Era o que eu antes não tinha. Desculpe-me pelas rimas, mas tenho tentado expressar uma dor de uma forma que não seja cliché ou dramática. E nem triste. Reconheço que o ocorrido não é a pior coisa do mundo, mas levou a musicalidade dos meus dias ao mudo. Vão-se as notas, os tons agudos, o querer falar; vão-se hábitos, os quilos, o café e alguns chás. Nem tive tempo de dizer adeus pra muitas dessas coisas: elas simplesmente me abandonaram ou tiveram que partir sem sequer o acenar da mão. O refluxo foi feroz, me deixou assim só. Mas (re)descobria, logo em seguida, que não estava só. Bençãos maravilhosas me brindaram o coração; pessoas me ajudaram e algumas pequenas alegrias fizeram canção nos meus dias. Ao cabo de três semanas, uma bateria esgotada ao tentar se trocada me rendeu uma maçã nova. Apesar dos muitos reais, tive a graça de ter a orientação profissional de seres maravilhosos. A maratona Botafogo, Copacabana e Barra sempre trazia uma felicidadezinha, uma sensação de progresso. Hoje, em meio a isso tudo, só vejo aprendizado e cheiro novidade. Nada ainda chegou ao fim. Há muitas questões se entrelaçando nessa trama e aos poucos o novelo tem se desfeito em uma linha retilínea; a algum lugar se está chegando. Mas, ainda não é o fim. Ainda é um processo; a longa espera que, embora pareça tão próxima de seu fim, ainda grita tão interminável. Eu preciso saber esperar, eu preciso aprender a tomar o chá de cadeira que a vida oferece. E, nesse processo, há carinho, há cuidado, há transformação, há aprimoramento. O Soberano tem provido com amor; e em paz transformado toda dor.
Sanderson Moreira (21/11/15)
Category continuidade, novo, vida